Capítulo 130

7 de outubro de 2011

Depois de tantos anos, o momento tão esperado por Júlia finalmente acontece.

Estão frente a frente de novo. Mais velhos, mais experientes, mais sábios talvez… Pedro cruza os braços e respira fundo antes de sentar no sofá.

__Eu realmente pensei… Acreditei na estória de Bruna sim. Todos acreditaram. Você estava morta e Bruna era a única testemunha do que aconteceu naquele galpão. – ele fala – Você estava morta, Júlia. A minha cabeça deu um nó quando soube… Queria acreditar em você, mas as evidências eram fortes demais…! Não apenas eu, mas todos acreditaram nela. Não havia como provar que Bruna estava mentindo!

__Sinceramente, não me importa se você acreditou ou não. Agora não importa mais. Durante muito tempo eu me preocupei se você realmente acreditava nas atrocidades que Bruna disse sobre mim… Tinha esperança de que houvesse em você uma fagulha de amor ou justiça por mim. – diz Júlia – Mas você casou com ela, a despeito de tudo o que vivemos juntos… O seu amor não era verdadeiro, pois aceitou casar com Bruna tão rápido!… – ela anda de um lado para o outro com as lágrimas correndo pelo rosto – Eu sofri muito por sua causa, Pedro. Sofri pensando que talvez estivesse sofrendo também… Que coisa mais tola! Eu perdi meu filho, o amor dos meus pais, minha casa, meu emprego, roupas, tudo… Só não perdi a dignidade. Por anos me alimentei dessa desgraça que me causou… Cheguei a te odiar, a pensar em vingança… Mas depois, vi que ódio e vingança não me levariam a lugar nenhum.

__Eu também sofri, Júlia. Muito. E não foi assim tão fácil decidir minha vida… Fiz o que devia fazer, o que na época me pareceu mais correto. Mas você não pode me julgar, não pode me condenar. Se tivesse aparecido logo depois do incêndio, talvez as coisas tivessem sido diferentes…

__Aparecer depois do incêndio?… Eu não tinha condições físicas de aparecer, Pedro! Eu tive queimaduras graves no corpo, sofri um aborto, como podia aparecer?! Sabe o que eu acho?… Que você é um personagem de livro de fantasia, que vive num mundo irreal, absurdo! Não consegue enxergar as coisas como realmente são! Eu estava arrasada, psicológicamente fragilizada, com meu rosto deformado! – ela para em frente a ele – Eu não podia e nem queria voltar.

__Se tivesse contado a polícia tudo o que aconteceu… Mesmo estando no hospital, se tivesse denunciado Bruna…

__Eu não era ninguém, Pedro! Era só uma garota do interior, ignorante, pobre e sem nenhum poder! Jamais acreditariam em mim.

__Meu Deus, como você teve coragem de fazer o que fez?… As coisas horríveis que fez contra minha família… Como teve coragem?

__Coisas horríveis… Seu pai é um crápula, Pedro. Sua mãe uma deslumbrada egoísta. Seu pai roubou o Benito! Junto com o seu sogro, ele quase arruinou o meu marido! Além disso, sua “família” fez coisas muito piores contra a minha.

Ele se levanta e se aproxima dela, olhando-a nos olhos.

__Você não era assim, Júlia. Não era vingativa, cruel, fria… Arrogante e egoísta…! Você era meiga, delicada, suave… – ele sorri – Era um doce.

__O doce estragou. Você estragou tudo, Pedro. Com a sua fraqueza. E tem razão: eu não era assim. Mas você, não mudou nem um milímetro, Pedro. E sabe o que é mais triste? Eu tive a ilusão de que quando nos reencontrássemos você estaria mudado… E que talvez houvesse alguma chance para nós. – Júlia respira fundo e cruza os braços – Ilusão idiota, um resquício daquela menina ingênua e crédula de Caiçara…!

__Eu prefiro aquela menina, se quer saber. Era autêntica, franca… Sem dissimulações, sem manipulações. – ele diz e se aproxima ainda mais dela – Há alguma chance daquela Júlia voltar?

__Não. Ela está morta há quase vinte anos. E deixou a mim em seu lugar.

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