Capítulo 145

4 de novembro de 2011

A reação de Bruna foi de indiferença. Ela não ficou nem um pouco abalada com a partida de Pedro! Ela fez apenas um comentário impessoal e pronto. Trocou uma ou duas palavras com o marido antes de ele partir e só.
__Espero que saiba o que tá fazendo, Pedro. – disse Bruna – Vai se enfiar naquele lugar odioso prá cuidar de uma fabriqueta de doces e um botequim de terceira categoria! Isto é a sua cara, querido!
__E você? Vai fazer o quê da vida?
__Não sei ainda. Talvez eu case de novo. – ela sorri – Com um milionário dessa vez!
__Tomara que dê tudo certo prá você, Bruna. Apesar dos erros teríveis que cometeu, alguns imperdoáveis, acho que merece ser feliz.
__Obrigada, meu bem. Adeus, Pedro. Não teria mesmo dado certo entre nós… – ela o beija no rosto – Adeus.
__Adeus, Bruna.
Pedro lembra, enquanto não chega a Caiçara. Bruna está certa. Não teria dado certo entre eles por mais que tentassem.
Já é quase noite quando finalmente chega a Caiçara. Cansado, ele procura um quarto no pequeno hotel da cidade. Ainda não pensou em alugar uma casa, mas quer morar perto da fábrica.
Voltar para Caiçara depois de tantos anos é ao mesmo tempo bom e ruim. Pedro gosta de lembrar os momentos felizes que passou ao lado de Júlia, a melhor época da sua vida… Mas os acontecimentos ruins, ele prefere esquecer.
As pessoas da cidade olham para ele com curiosidade, algumas o conhecem, como o ex-prefeito Mateus e o delegado Valdomiro. Mas Pedro não está preocupado com o que os outros pensam. O que ele quer é viver em paz, aquela vidinha que planejou viver com Júlia no passado…
__Quer conhecer o bistrô? – pergunta Caio um dos donos do pequeno hotel onde Pedro está morando – Acho que o senhor vai gostar…
__Vamos lá!
A fachada é muito bonita com arquitetura antiga lembrando os bistrôs de Paris… E o nome, um encanto: Bistrô Delicado. Pedro sorri antes de entrar, sentindo que agora sua vida vai dar certo de verdade.
Muito bem decorado, um garçom arruma as toalhas das mesas enquanto outro varre o chão.
__Ainda não abriu. – diz Caio – Estão esperando o senhor para dar as ordens…
__Como assim dar as ordens?…
__É o novo dono, não é? Então precisa dar as ordens!
__Não, não…! Eu não sou dono de nada! Vou administrar a fábrica, mas o bistrô é dos funcionários!
__O gerente atual não entende muito bem da coisa… Sabe como é, seu Pedro… Gente do interior, não tá acostumado com essas coisas da cidade grande…! O senhor com certeza vai cuidar melhor disso aqui!
__Bem, eu vou dar uma ajuda. Posso ver a cozinha?
__Claro.
Pedro gosta do que vê. Tudo muito limpo e organizado, com uma decoração simples e delicada. A cozinheira parece bem experiente e os ajudantes também.
__Seu Pedro, já tem cliente no bistrô! – diz um dos garçons entrando na cozinha esbaforido – Quer falar com o gerente!
__Bem, e onde está o gerente?
__Acho que o senhor vai ter de resolver isso, seu Pedro… – fala Caio – O gerente não vai aparecer hoje.
__Porque não?
__Pediu demissão. Eu disse, ele não entende muito dessas coisas, estava todo atrapalhado!… Acho melhor o senhor resolver isso com o cliente.
__Tá certo. Vou falar com o cliente. – ele diz, um tanto hesitante.
Sentada numa mesa de canto, a mulher de óculos escuros e vestido verde se levanta quando Pedro aparece.
__Porque demorou tanto? – ela diz tirando os óculos.
Pedro abre um sorriso ao ver Júlia.
__Júlia! O que tá fazendo aqui?
__O que estou fazendo aqui?! Vim tomar um café, ora! – elase aproxima dele – Porque você demorou tanto, Pedro?
__Eu… Pensei que tinha ido embora, prá Espanha… O que faz aqui, Júlia? – ele está atordoado e feliz ao mesmo tempo…
__Jaila Rivera foi embora. Eu fiquei. – ela sorri antes de abraçá-lo – Eu estou aqui, querido… Júlia Castro.
__Como assim?… Você vai ficar em Caiçara?…
__Sim, eu vou ficar. Com você. – ela diz antes de beijá-lo. – Eu te amo, Pedro. Nunca deixei de te amar. Mesmo quando pensava que não te amava, eu te amei. O que me fez desistir de bancar a “justiceira”, de querer prejudicar ainda mais sua família, foi o amor que sempre senti por você, querido. – as lágrimas caem de seus olhos sem que ela perceba… – Não podia continuar com aquela tolice se ainda amava você…!
__Eu também te amo, Júlia. Sempre te amei. Fui covarde, um fraco, um completo idiota!… Devia ter enfrentado minha família e ficado com você, como eu queria…! Teria sido muito mais feliz. – ele sorri, abraçando-a forte – Vamos começar de novo, docinho?
__Claro, meu amor! Vamos começar tudo de novo! Juntos.
__Mas e os seus negócios? Como vai ser sem você na El Madrid?
__Anadyr estará no comando agora. As empresas agora serão administradas por ela. Passei minha ações prá Anadyr. Ela já era dona de uma parte das empresas, agora será a nova presidente da El Madrid.
__Você entregou tudo prá Anadyr?
__Benito deixou uma parte de sua fortuna prá ela, Pedro.
Pedro dá uma risada.
__Isso é ótimo!
__A única pessoa em quem Benito confiava cegamente além de mim, era Anadyr. Ela nunca foi só uma secretária, meu amor. Ela é uma das herdeiras de Benito Rivera. Aliás, acho muito justo que ela assuma as empresas.
__Bem, e agora o que você vai fazer da sua vida?
__O que eu sempre quis fazer, meu amor: cozinhar! Você cuida das finanças e eu cuido da comida!
Eles se beijam apaixonadamente. Este momento durante muito tempo só aconteceu nos sonhos deles… Queriam muito estar juntos, se amando novamente e fazendo planos para o futuro… Durante muitos anos, ficou só na vontade, na imaginação… E agora, finalmente aconteceu!
Foi uma decisão muito fácil para Júlia. Estava no aeroporto quando se deu conta de que não tinha nada mais a fazer na Europa. Que sua estória como Jaila Rivera tinha chegado ao fim. Não precisava mais ser quem não era… Não precisava mais fingir que não amava Pedro. Ela é – e sempre será – Júlia Castro, a garota interiorana que adora cozinhar!…
E quanto a Pedro, também foi bem fácil decidir que rumo dar a sua vida, mesmo sem ter Júlia ao seu lado. Seu divórcio aconteceu sem que sentisse culpa alguma… Libertar-se de seus pais também não lhe causou qualquer remorso… Ele, assim como Júlia, pode agora ser quem realmente é.

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